“Poemas de Leonardo”, de Amadeu Baptista, é a obra vencedora da segunda edição do Prémio de Poesia Joaquim Pessoa, no valor de 5 000 euros, entregue no dia 27 de outubro, na Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça. “A poesia é uma expressão de liberdade; o ato criativo é um ato de criação de liberdade”, referiu o Presidente da Câmara da Moita, Rui Garcia, nesta iniciativa que contou com sala cheia.
Além do Presidente da Câmara da Moita, participaram na cerimónia de entrega do Prémio, Teresa Adão, das Edições Esgotadas, Annabela Rita, presidente do júri, Amadeu Baptista, vencedor, e o poeta Joaquim Pessoa.
A iniciativa teve início com a leitura de poemas de Joaquim Pessoa, por Zélia Filipe, tais como “Nos Teus Gestos” e “Não há um Nome para a Tua Ausência”.
“A cultura é uma linha de combate ao obscurantismo, ao fascismo”
Rui Garcia referiu que o Prémio Joaquim Pessoa, promovido pela Câmara Municipal da Moita, em parceria com a Editora Edições Esgotadas, tem como objetivo “prestar homenagem a uma das grandes personalidades da poesia e da literatura portuguesa, com uma forte ligação ao concelho da Moita – Joaquim Pessoa. É justa a homenagem que o Município lhe presta”. Outro dos objetivos deste Prémio, segundo referiu o autarca, é a promoção da cultura, da criação, e da literacia. “Face a um mundo que não está a encontrar caminhos muito propícios à cultura”, Rui Garcia considera que esta é “uma linha de combate ao obscurantismo, ao fascismo”.
“A poesia é uma expressão de liberdade; o ato criativo é um ato de criação de liberdade”, referiu ainda o autarca, dando os parabéns ao vencedor e agradecendo a Joaquim Pessoa, à editora e aos membros do júri “o trabalho feito com seriedade e dedicação”.
Teresa Adão, da Editora Edições Esgotadas, referiu que a “Câmara da Moita está de parabéns por ter abraçado esta iniciativa que, na segunda edição, está já com êxito e tem suscitado interesse a nível nacional”. Enalteceu o trabalho voluntário do júri e a escolha da obra, referindo que Amadeu Baptista já recebeu anteriormente vários prémios. “A poesia está de parabéns”, salientou.
Annabela Rita destacou o facto de o júri ser constituído por um painel “impressionante de representação académica e institucional”. O Júri desta edição, que decidiu por unanimidade a atribuição do Prémio a “Poemas de Leonardo”, foi constituído por Annabela Rita (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), Luísa Antunes Paolinelli (Universidade da Madeira), Dionísio Vila Maior (Universidade Aberta), Ana Maria Oliveira (Universidade Católica / representante da editora Edições Esgotadas) e José Beiramar (professor / representante da Câmara Municipal da Moita).
A presidente do júri apresentou a obra premiada, que faz o leitor olhar para um “espelho” – a pintura de Leonardo Da Vinci –, e o conduz através de um itinerário de interrogação, entre a vida e a morte.
“A poesia não é amparo contra a desolação”
Amadeu Baptista afirmou-se grato pelo Prémio Joaquim Pessoa e criticou a falta de apoio do Estado Português “aos artistas portugueses em todas as suas frentes”.
“A poesia não é amparo contra a desolação. Como poeta, estou sempre cheio e sempre vazio e, quanto maior é o confronto com o poema, mais o vazio se expande e é maior a desolação. Olho para trás e sei que sempre escrevi sobre o vazio, não apenas para o ultrapassar, mas para subentender alguma comoção no que vejo à minha volta”, afirmou Amadeu Baptista.
O poeta lembrou que “um poema contém sempre uma pequena parte da biografia do que fomos e somos e expressa a falibilidade da nossa fraqueza, a frágil delicadeza com que os fios da teia se vão tecendo poderosamente em volta da nossa cabeça e do nosso coração”, acrescentando: “Se algum leitor puder identificar-se num verso que seja do que ficou escrito, já rejubilarei por a coincidência ter resultado”.
Amadeu Baptista nasceu no Porto em 1953. O seu primeiro livro, “As Passagens Secretas”, data de 1982, tendo publicado, entretanto, mais de trinta títulos de poesia e recebido diversas distinções.
O poeta Joaquim Pessoa, patrono do Prémio, referiu que estas iniciativas “ajudam a chegar aos autores, a que os autores cheguem aos leitores e a que se fale de poesia”. “Só acredito num prémio quando a obra está sujeita a uma análise dentro do anonimato dos concorrentes”, como é o caso do Prémio de Poesia Joaquim Pessoa. Concordando com o premiado relativamente à “difícil situação dos poetas em Portugal”, o poeta recordou que Portugal “tem menos de 1% no orçamento para a Cultura”. “Resistimos muitas vezes através da arte”, concluiu, incentivando os artistas a nunca desistir: “Talvez um dia desista, mas não hoje”.
A iniciativa terminou com um recital por Carlos Mendes ao piano que cantou textos de Joaquim Pessoa. “Amor combate”, “Ruas da minha Cidade”, “Amélia dos Olhos Doces” (“o sucesso que nos persegue toda a vida”, como referiu Carlos Mendes), foram algumas das músicas cantadas.
Recorde-se que o Prémio de Poesia Joaquim Pessoa foi criado, em 2015, pela Câmara Municipal da Moita, em parceria com a Editora Edições Esgotadas, no âmbito das comemorações dos 40 anos de atividade literária do poeta. Destina-se a galardoar, bienalmente, uma obra de poesia escrita em língua portuguesa. O valor do Prémio é de 5 000 euros, atribuído pela Câmara da Moita, cabendo à Editora Edições Esgotadas a publicação da obra vencedora.