No 24 de maio, pelas 21:30h, no Centro de Experimentação Artística, no Vale da Amoreira, será apresentada a peça “A Rapariga Mandjako”, de Rui Catalão, com Joãozinho da Costa, no âmbito do projeto “Solos”.
Desde que, em 2010, estreou “Dentro das Palavras”, até ao seu mais recente “O Pavão Canta, a Pantera Aproxima-se”, Rui Catalão já assinou e interpretou oito solos autobiográficos. Este solo, agora apresentado, representa uma nova fase do seu trabalho.
“A Rapariga Mandjako” é o terceiro solo com intérpretes do Vale da Amoreira, depois de “Medo a Caminho”, com Luís Mucauro, e “Adriano já não Mora Aqui”, com Adriano Diouf. Recolhendo as memórias pessoais desde a infância, as três peças centram-se no crescimento dos protagonistas e de como fizeram a transição da juventude para a idade adulta.
Joãozinho da Costa cresceu em plena guerra civil e tinha 11 anos quando deixou Bissau, na sequência do golpe de Estado que derrubou o governo de Kumba Yalá. Veio com os irmãos para Portugal, onde se juntou ao pai, e nunca mais voltou. 16 anos depois, convidei-o para regressar a esses anos de transição entre dois mundos, entre duas idades e logo na primeira semana de trabalho ele anunciou-me que ia regressar à Guiné para visitar a mãe. É a primeira vez que irá revê-la, desde que veio para Portugal. O mais espantoso foi ter-me dito que durante estes anos todos nunca lhe ocorreu regressar.
A frase de despedida da mãe – “cuida da tua irmã” – ainda hoje ressoa na sua memória. Porque é que ela lhe disse semelhante coisa, quando o Joãozinho era ainda uma criança, pouco maior do que a irmã, e tinha até irmãos mais velhos? O que viu a mãe nele para lhe legar essa responsabilidade?
“A Rapariga Mandjako” relata o despertar de Joãozinho para a consciência de si mesmo e das suas ações, a partir do momento em que o pai lhe faz uma proposta de noivado com uma rapariga da sua etnia. A sua recusa leva-o a aproximar-se de outra rapariga que conhece no Vale da Amoreira, e que lhe é apresentada como “Jennifer Lopez”.
Essa rapariga vai encaminhá-lo por um labirinto de identidades e estados emocionais, em que ele se esquiva das tradições e superstições da cultura mandjako e procura integrar-se nos padrões de comportamento da vida moderna. Até finalmente descobrir, no verso de um Bilhete de Identidade, que a rapariga mandjako de que ele julgava fugir é a mesma rapariga moderna que ele julgou encontrar.
Rui Catalão
Dramaturgia e encenação: Joãozinho da Costa e Rui Catalão
Luzes: João Chicó
Produção: [PI] Produções Independentes
Coprodução: Câmara Municipal da Moita / Centro de Experimentação Artística; Fiar – Festival Internacional de Artes de Rua
[PI] Produções Independentes é uma estrutura apoiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura / Direção-Geral das Artes.