Histórico-Artístico
-
Coleção Régia
Salão Nobre dos Paços do Concelho, Praça da República, Moita
Coleção de retratos dos reis de Portugal, do artista Miguel António do Amaral, professor de desenho do século XVIII, patente no Salão Nobre dos Paços do Concelho. A coleção é constituída por vinte e seis telas: Conde D. Henrique; D. Afonso Henriques; D. Sancho I; D. Afonso II; D. Sancho II; D. Afonso III; D. Dinis; D. Afonso IV; D. Pedro I; D. Fernando; D. João I; D. Duarte; D. Afonso V; D. João II; D. Manuel I; D. João III; D. Sebastião; Cardeal D. Henrique; D. Filipe II; D. Filipe III; D. Afonso VI; D. Pedro II; D. João V; D. José; D. João VI e Dona Carlota Joaquina. O artista Miguel António do Amaral só pintou até ao quadro de D. José, reinado em que faleceu, as telas de D. João VI e Dona Carlota Joaquina não são da sua autoria.
A encomenda da série régia foi feita pelo Mosteiro de Alcobaça a Miguel António do Amaral. O autor baseou-se em estampas com reproduções de outros pintores, um expediente muito utilizado nos séculos XVII e XVIII, em consequência da necessidade de se produzirem obras baratas e rápidas. São as vestes que marcam as figuras, com o peso e as dobras dos tecidos pintados em fundo escuro isento de adereços, com exceção da tela referente a D. Afonso Henriques, em cujo fundo se apresenta pintada a fachada gótica do Mosteiro de Alcobaça.
Outro aspeto a salientar na história desta coleção régia foi a sua transferência da Sala dos Reis do Mosteiro para o Depósito da Academia Real de Belas Artes de Lisboa, com a supressão das ordens religiosas em 1834.
Na segunda metade do século XIX, e por intervenção de um proprietário do concelho, Salvador José Castanha, foi possível a aquisição deste ciclo de telas sobre os monarcas portugueses. A portaria de 17 de Agosto de 1874, assinada pelo ministro do Reino de Fontes Pereira de Melo, autoriza a sua concessão à Câmara da Moita, com o objetivo de “adornar o Salão Nobre dos Paços do Concelho”.
No ano de 2011, foi assinado um Protocolo entre a Câmara Municipal da Moita e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, através do seu Departamento de Conservação e Restauro, com vista a serem recuperadas as oito telas da Coleção Régia que ainda careciam de tratamento. O quadro selecionado para intervenção foi o Cardeal D. Henrique, cujos trabalhos de conservação e restauro foram realizados pelos alunos de Mestrado, sob a supervisão da responsável Professora Doutora Leslie Carlyle, da FCT/UNL (DCR). A Câmara da Moita apenas suportou as despesas relacionadas com os materiais usados no tratamento da obra. Como estes trabalhos são feitos no contexto de aula, o quadro régio somente ficou concluído no final do mês de Março de 2017
-
Pelourinho de Alhos Vedros
O pelourinho é um monumento manuelino, do século XVI, que se enquadra na acção política da Reforma dos Forais, empreendida pelo do rei D. Manuel I. Surge na sequência da atribuição do Foral à vila de Alhos Vedros, no ano de 1514.
Fortemente imbuído de significado político, o pelourinho simboliza o poder municipal e assume-se como instrumento de propaganda régia, através dos emblemas nele inscritos, como é o caso da esfera armilar.
Além do seu significado político, o pelourinho reúne valor artístico e arquitectónico, relacionado com a época da sua produção. Apresenta-se apoiado sobre uma base, constituída por três degraus, o primeiro de planta quadrada e os restantes de forma circular, sendo o último decorado por um singelo entrelaçado; a coluna alta de secção oitavada e plana é sobrepujada pelo capitel, de forma prismática e lisa, o qual termina no remate, uma esfera armilar em ferro forjado (símbolo emblemático do rei Venturoso) que serve de suporte a um catavento.
Imóvel de Interesse Público, Decreto Nº.23122, DG 231 de 11 Outubro 1933.
-
Poço "Mourisco"
Interessante testemunho patrimonial da vila de Alhos Vedros, cujo nome se deve à tradição oral que faz remontar a sua origem ao período de ocupação árabe. Mas, na verdade, trata-se de um poço quinhentista, decorado com elementos colhidos da natureza, sendo de realçar o ramo de oliveira com azeitonas, a flor-de-lis e a cabaça, símbolo do peregrino de Santiago. Ao longo dos tempos, teceu-se uma lenda a respeito deste mesmo elemento: “Quando algum rapaz ou rapariga com a cabeça conseguir partir a cabaça que nele se encontra esculpida, dele sairá um tesouro imenso de moedas em ouro que o tornará feliz para toda a vida”.
As vetustas pedras que formam o poço patenteiam, nos seus topos, profundos sulcos que terão sido lavrados pelo roçar constante das cordas no vai vem dos baldes, o que demonstra a sua utilização durante séculos, no abastecimento de água à vila de Alhos Vedros.
Fluvio-Marítimo
-
Embarcações Tradicionais
Ligada a uma tradição de transportes entre as duas margens do Tejo, a atividade naval faz com que no território da Moita (tal como em toda a zona do Estuário do Tejo) se desenvolvessem embarcações que, pelo seu tamanho e características, respondessem às necessidades exigidas.
Assim, entre os barcos que nesta área tiveram mais desenvolvimento destacam-se os botes, as faluas, os varinos e as fragatas. Destes barcos possui a Câmara Municipal da Moita um exemplar; um varino “O Boa Viagem”. A recuperação desta embarcação tradicional entre 1980 e 1981, no estaleiro naval do mestre José Lopes, teve a Câmara Municipal da Moita como pioneira, seguida posteriormente por outras autarquias.
Entre os anos de 2010 e 2011, “O Boa Viagem” foi de novo submetido a uma grande intervenção que envolveu a própria estrutura da embarcação, no estaleiro naval de Sarilhos Pequenos. Ao longo deste processo de recuperação foram utilizadas as ancestrais técnicas de carpintaria naval, calafeto, tratamento e pinturas das madeiras.
O varino é uma embarcação de fundo chato, para navegar nos esteiros do rio, com águas de pouca profundidade. Exibe uma proa redonda, encimada pelo caneco ou capelo também aduncadamente recurvo para dentro. Ostenta as características pinturas decorativas no painel da proa, na antepara e nos barbados, conferindo-lhe um colorido inconfundível. Tem cerca de vinte metros de comprimento por cinco de largura, podendo transportar até duzentas toneladas.
Numa perspetiva de valorização deste património, “O Boa Viagem” foi classificado como um bem cultural de interesse municipal, em Reunião de Câmara de 28 de Setembro de 2011.
-
Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos
O Estaleiro de Sarilhos Pequenos foi comprado pelo Mestre Jaime Ferreira da Costa, no ano de 1957, numa época em que a construção naval era uma atividade florescente. Com o declínio do transporte fluvial, o estaleiro deixou de estar vocacionado para a construção de embarcações tradicionais do Tejo e a sua atividade passou a incidir na recuperação e manutenção de diferentes tipos de barcos de recreio, entre os quais se destacam os das Câmaras Municipais.
É o último estaleiro na região onde ainda se podem construir e reparar embarcações tradicionais do estuário do Tejo, utilizando técnicas ancestrais da arte naval. A preservação e transmissão destes saberes às futuras gerações, torna pertinente a sua inscrição na Lista da UNESCO de Património Cultural Imaterial da Humanidade que Necessita de Salvaguarda Urgente.
-
Cais da Moita
O Cais da Moita desempenhou, ao longo de séculos, um papel de grande relevância. O movimento fluvial de e para Lisboa, com mercadorias ou com passageiros, atribuiu a este ancoradouro uma grande importância económica e social. Durante séculos, o Cais foi o coração da vila da Moita. Toda a vida gravitava em seu torno. Era a grande porta para o exterior.
Aqui chegavam viajantes, carroças e carretas de bois carregadas de produtos, a fim de tomarem a carreira do barco para a cidade de Lisboa. Devido a toda essa movimentação diária de passageiros e mercadorias, cujo aumento se verificou a partir do século XVII, o cais transformou-se num verdadeiro posto de trabalho, onde um grande número de homens desempenhavam as tarefas de carregadores, vivendo das necessidades dos carregamentos que cada maré permitia efetuar.
Industrial
-
Moinho de Maré
O Moinho de Maré, situado no cais da vila de Alhos Vedros, terá sido construído na primeira metade do século XV, por Pero Vicente, na sequência de uma carta de sesmaria, concedida pelo Infante D. João, Mestre da Ordem de Santiago, a 13 de Fevereiro de 1435, em que lhe dá a posse de um chão e sapal para construir uma azenha.
A propriedade deste moinho transita para a família Mendonça Furtado, através da descendência do irmão de Catarina Lopes Bulhoa, segunda esposa de Pero Vicente e permaneceu na posse dessa família até ao século XIX. Com a instituição do Morgado da Casa da Cova, por Pedro Mendonça, no século XVI, o Moinho de Maré, juntamente com o Moinho Novo e o Palácio, passou a integrar o conjunto dos bens do Morgadio, tal como é referido nas escrituras de arrendamento.
Na primeira metade do século XX, a propriedade do moinho de maré deixou de estar na posse da família Mendonça Furtado e passou a ser pertença de José Gago da Silva. Foi com este proprietário que trabalhou o último moleiro do moinho, Manuel José Moreira, até 1939-1940. Posteriormente, foi vendido a um industrial de cortiça de Alhos Vedros que o transformou num armazém para as caixas da fábrica, altura em que foi construído o piso superior.
Em 1986 foi adquirido pela Câmara Municipal da Moita e entre 2006 e 2007 foi alvo de um projecto de reabilitação que o converteu num espaço cultural polivalente.
Após séculos de laboração, a actividade moageira teve o seu fim de ciclo e hoje o moinho constitui um bom exemplo arquitectónico dos sistemas tradicionais de moagem que se estabeleceram na margem sul do estuário do Tejo.
-
Moinhos de Vento
No concelho da Moita, existiu um conjunto importante de moinhos de vento, com a função de moerem os cerais, complementando, assim, o trabalho dos moinhos de maré. A sua construção só se efetuou por volta do século XIX.
Entre esse conjunto, são de referir os moinhos do Largo da Feira, do Alto do Moinho e do Gaio, propriedade da Câmara Municipal.
Fonte: Retrato em Movimento do Concelho da Moita, Câmara Municipal da Moita, 2004
-
Fábricas
Com uma tradição anterior à Revolução Industrial, as atividades transformadoras têm na Moita e em Alhos Vedros uma presença que data ao século XVI, através das fábricas de cerâmica, dos fornos de cal e das oficinas de vidro. Mas é com a industrialização no século XX que o fenómeno da Revolução Industrial mais se faz sentir neste concelho.
A implantação no Barreiro de inúmeras atividades ligadas à indústria química e corticeira e a construção do caminho de ferro e suas oficinas fizeram chegar os seus efeitos a Alhos Vedros e à zona que se tornou, mais tarde, na vila da Baixa da Banheira. Alhos Vedros, com a instalação, desde o início do século, de inúmeras unidades industriais ligadas à cortiça e aos têxteis, e a Baixa da Banheira, com a instalação do operariado vindo de todas as partes de país para as indústrias do Barreiro, formaram os principais núcleos industriais do Concelho.
Fonte: Retrato em Movimento do Concelho da Moita, Câmara Municipal da Moita, 2004
Arqueológico
-
Jazida Arqueológica do Gaio-Rosário
As escavações arqueológicas realizadas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, dirigidas por António Gonzalez e Joaquina Soares, puseram a descoberto a jazida arqueológica pré-histórica, na freguesia do Gaio/Rosário, em Julho de 1994, sendo a primeira estação a ser identificada no concelho.
Os trabalhos revelaram uma camada arqueológica dos inícios do Neolítico, com cerca de seis mil anos, correspondente a uma ocupação humana de carácter habitacional. Durante as escavações, foram recolhidos diversos materiais: lareiras com evidente ação do fogo; uma grande densidade de fragmentos cerâmicos decorados por incisão, impressões e motivos plásticos, pertencentes a recipientes destinados à confeção de alimentos e armazenamento; bem como numerosos instrumentos de sílex de pequenas dimensões, utilizados quer como flechas e arpões, quer como objetos cortantes. Este espólio arqueológico documenta não só a ocupação do local, como também a estabilidade do grupo humano que aí permaneceu.
A localização deste povoado junto à margem do Tejo sugere um tipo de economia baseado, essencialmente, na exploração dos recursos aquáticos. Após o Neolítico Antigo, o local foi abandonado e voltou a ser utilizado como lixeira doméstica, nos finais do século XVI ou inícios do século XVII.
Etnográfico
-
Festas Tradicionais
O ciclo das festas religiosas no concelho da Moita tem o seu início com os festejos em honra de S. José Operário (Baixa da Banheira – Julho). Estas festividades remontam aos anos 60 e estão associadas à criação da Paróquia de S. José Operário naquela vila, então centro operário, desde os finais dos anos 40.
As festas em honra de Nossa Senhora dos Anjos (Alhos Vedros – Julho) confundem as suas origens com uma lenda: “Nos primórdios da nacionalidade, em Dia de Ramos, estando os moradores do lugar de Alhos Vedros a celebrarem na Igreja, a referida cerimónia, com os ramos de palma bentos, foram subitamente surpreendidos por um exército de mouros que havia descido o castelo de Palmela com o intuito de saquear e cativar os cristãos. Não detendo grandes armas o povo saiu com os ramos de palma e invocando a proteção da Nossa Senhora dos Anjos, pelejaram com grande bravura, provocando um grande horror e confusão entre a moirama que para salvarem as suas vidas bateram em retirada para Palmela. Como pagamento da promessa e em ação de graças por essa vitória, o povo de Alhos Vedros passou a celebrar todos os anos, no Dia de Ramos, Nossa Senhora dos Anjos”.
Esta lenda parece relacionar-se com a grande ofensiva almóada do final do século XII. A aproximação dos exércitos de Almansor (emir almorávida que lançou, em 1190, uma ofensiva a partir de Marrocos, com o objetivo de recuperar as terras conquistadas por D. Afonso Henriques) ao castelo de Palmela levou a que parte da população daquele castelo fugisse, provavelmente, para as terras que hoje são Alhos Vedros, por estas oferecerem melhores condições naturais de defesa.
Interpretando esta lenda à luz dos atuais conhecimentos, sabemos que para o homem da Idade Média esta fuga e entrega do castelo não teria sido uma ação digna de ser recordada, pelo que houve necessidade de se criar uma narrativa lendária, revestida de uma simbiose de humano e sobrenatural, de forma a colmatar a dureza da realidade e a ocultar o resultado dos factos históricos.
No século XVI, a romaria de Nossa Senhora dos Anjos devia ser a mais importante da Margem Sul do estuário do Tejo. Quando, em 1521, foi criado o concelho do Barreiro, o rei D. Manuel determinou que os vizinhos do novo município contribuíssem para a procissão em honra da Senhora.
As festas em honra de Nossa Senhora do Rosário (Rosário – Agosto), Nossa Senhora da Graça (Sarilhos Pequenos – Setembro), Nossa Senhora da Boa Viagem (Moita – Setembro) têm como origem a devoção dos marítimos. Esta última festa é hoje a que tem maior projeção dentro do concelho, sendo uma das mais importantes do Sul do Estuário do Tejo. Remonta provavelmente à primeira metade do século XVII, sendo, nos nossos dias, uma síntese entre as festividades religiosas e profanas, marítimas e rurais. As celebrações religiosas e marítimas centram-se, sobretudo, no primeiro domingo das festas com a procissão, bênção das embarcações tradicionais.O lado profano e rural tem na festa brava a principal manifestação, pois no decorrer das festividades realizam-se largadas e corridas de toiros.
Quanto à festa de Nossa Senhora da Atalainha (Barra Cheia – Outubro) parece remontar a 1850, derivando o seu nome da grande devoção a Nossa Senhora da Atalaia do Montijo. A festa realiza-se sempre no final da época das colheitas, período do ano em que os trabalhadores estão mais disponíveis para uns momentos de encontro com a história e a realidade local. -
Festa Brava
Na dependência económica de Lisboa, a Moita experimentava também a influência cultural da capital, nutrindo igualmente uma grande simpatia pelos festejos com touros, até final do século XVIII praticamente circunscritos ao protagonismo de nobres e de clero. Na sequência da vitória liberal (1834), os festejos com touros conhecem uma implantação mais alargada e, mercê da concorrência popular, sobrevem a configuração do espetáculo tauromáquico moderno.
Na Moita, em 1837, os festeiros da Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem realizavam duas corridas de touros. Passadas três décadas, o desenvolvimento da «afición» local permitirá perspetivar a exploração económica do espetáculo com touros, edificando-se para o efeito a Praça de Touros Nª. Sr.ª da Boa Viagem, em 1872, também designada, por vezes, como Praça da Caldeira. Em 1947, a velha praça de touros conclui a sua função na história da tauromaquia moitense. De 1872 a 1947, foram cumpridos 75 anos ao serviço da festa brava, interrompidos pela vistoria que detetou carências ao nível das condições de segurança. Sem praça de touros que estimulasse festeiros não se realizaram as Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem em 1948 e 1949. Sendo uma circunstância insustentável para os moitenses, tem início um movimento para a construção da nova praça de touros, constituindo-se a Sociedade Moitense de Tauromaquia, proprietária da atual praça de touros, que tomou a denominação de Daniel do Nascimento. A inauguração da Daniel do Nascimento ocorreu em 16 de Julho de 1950 e contou com a presença dos ministros da Educação e da Economia, subsecretários de Estado do Comércio e Indústria e da Agricultura, governador-civil, entre outras individualidades. Ao longo destes anos, a Moita tem consolidado uma posição cimeira no panorama tauromáquico, detendo atualmente aquela que é conhecida como a mais importante feira taurina de Portugal, que se realiza em Setembro, aquando das Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem.
De salientar, ainda, na forma de festejo popular, as tradicionais largadas de touros, na Avenida Dr. Teófilo Braga, na Moita, na Praia do Rosário e também, embora com menor expressão, em Sarilhos Pequenos, em Alhos Vedros e na Barra Cheia.
-
Ranchos Folclóricos
O espaço geográfico que constitui hoje o concelho da Moita assistiu, a partir do século XIX, a movimentos migratórios: os caramelos da Beira Litoral, que beneficiaram da distribuição das terras foreiras, fixaram-se na zona da Barra Cheia, Brejos e Arroteias; mais tarde, alentejanos e algarvios instalaram-se na zona da Baixa da Banheira e Alhos Vedros.
Estas gentes, portadoras dos valores culturais das terras de origem, influenciaram grandemente esta região com as suas superstições e crenças religiosas, com as suas músicas e instrumentos musicais, com o seu vestuário e adornos.
Estes bens culturais contribuíram para o enriquecimento e valorização cultural do concelho. Os herdeiros dessas tradições procederam à recolha dos costumes dos seus antepassados, com vista à sua divulgação, dando assim origem à criação das seguintes formações: Rancho Folclórico «Os Fazendeiros da Barra Cheia e Arredores», Rancho Etnográfico da Danças e Cantares da Barra Cheia, Rancho Folclórico do Clube Recreativo Sport Chinquilho Arroteense.
Estes grupos de folclore, expressão da cultura dita popular, têm procurado defender e preservar os costumes e tradições das suas gentes, nas suas danças e cantares, na sua música, no seu trajar e nas suas fainas diárias. Pesquisando estes valores, os ranchos mostram aos mais novos a maneira de ser e de estar dos seus antepassados, permitindo, ao mesmo tempo, a existência de um folclore autêntico.
Alguns destes grupos estão filiados na Federação do Folclore Português e todos promovem e participam em festivais concelhios, nacionais e até internacionais.
-
Artesanato
Da atividade fluvial ligada ao transporte de produtos para a cidade de Lisboa, resta hoje a memória dos marítimos, homens que começaram a trabalhar nas embarcações, aos oito, nove e dez anos, como moços para mais tarde passarem a camaradas e arrais.
Essa memória vive nas miniaturas de barcos – varinos, botes e fragatas –, laboriosamente construídas, em madeira ou cortiça, pelos artesãos de Sarilhos Pequenos, Gaio/Rosário, Moita e Alhos Vedros.O quotidiano desse trabalho rico de histórias é ainda relembrado nos próprios nomes dos barcos em que foram marítimos: «Auxiliar», «Serra Velha», «Quinze», «Pimpão», «Maria Rosa», «O Boa Viagem» e «A Pombinha». A recriação do imaginário fluvial é também visível nas pinturas tradicionais, o que confere às embarcações cor e graciosidade.
José Martins, Luís Raimão e João Albino são alguns dos mestres da construção de réplicas dos barcos típicos do Tejo, hoje um cartão-de-visita do concelho.
Arquitetura Religiosa
-
Capela de Nossa Senhora do Rosário
Largo das Forças Armadas, Rosário
A capela do Rosário foi mandada construir em 1532, por Cosmo Bernardes de Macedo, proprietário da Quinta de Martim Afonso e fidalgo da Casa Real. Temos esta indicação em duas inscrições epigráficas, estando a primeira colocada sobre a porta que dá entrada à sacristia e a segunda, gravada no degrau de acesso à capela-mor que nos diz o seguinte: «Esta capela e sepultura he de Cosmo Bernaldes de macedo e de sua molher Isabel Serram».
Inicialmente esta capela foi dedicada a S. João Evangelista, mas devido aos milagres da Senhora que se começaram a verificar, desde a época da sua fundação, cuja imagem estava também no altar, o Santo Evangelista foi esquecido e o nome de Nossa Senhora tomou preponderância em relação àquele (Santuário Mariano).
Em 1758, segundo as Informações Paroquiais, era seu administrador o filho de Pedro de Sousa Castelo Branco que tinha a obrigação de dar duas missas rezadas em cada semana, e uma em cada ano, no oitavário dos Santos, ofertada com cinco alqueires de trigo e cinco potes de vinho.
Em 1966, o imóvel sofreu obras de recuperação que alteraram a espacialidade interior do monumento, sendo demolidos o coro e o púlpito.
A capela apresenta uma planta simples, orientada para Nascente, tendo na fachada principal o óculo e um portal gótico de arco trilobado, com elementos ornamentais característicos da arte manuelina. Aqui destacamos os colunelos de fustes lisos, com os capitéis decorados com flores, os entrançados e as cabaças nas bases.
No interior, destacamos a pia batismal de forma oitavada e a pia de água benta, decorada com motivos vegetalistas, flores e bolotas em relevo. As paredes laterais da capela-mor encontram-se revestidas por dois painéis de azulejos azuis e brancos do século XVIII, rodeados por uma cercadura com um remate de dois anjos. Os azulejos exibem cenas da Senhora com o Menino ao colo. O corpo da capela é separado do santuário por um belo arco cruzeiro ou triunfal, em asa de cesto, talhado em meia cana côncava, onde estão esculpidas quatro flores em relevo de folhagens sobrepostas. O teto é em madeira, tipo caixotão, decorado com motivos muito simples, molduras retangulares, sendo visível no caixotão junto ao arco triunfal, as armas portuguesas, o escudo e a coroa real.
A capela do Rosário encontra-se classificada como Monumento de Interesse Público.
Carta do Património do Concelho da Moita, 2018, pp.338-339.
-
Igreja Matriz de S. Lourenço
Largo da Igreja, Alhos Vedros
Igreja de nave única com cinco capelas laterais e capela-mor, a sua fundação remonta provavelmente aos finais do século XIII, mas da construção primitiva não resta quaisquer testemunhos. Ao longo dos séculos, foi sendo sujeita a alterações, de que resultou um conjunto estilístico heterogéneo, sendo de realçar a colecção azulejar que vai da primeira metade do século XVI até ao século XVIII.
A fachada da igreja recebeu um portal tardo-renascença, datado de 1602 e o interior da nave apresenta uma arquitectura do século XVII em “estilo chão”, com as paredes revestidas de azulejos de 1749, onde se relatam passagens da pregação e martírio de S. Lourenço (patrono da igreja). O tecto de madeira com a usual cobertura em caixotões exibe interessantes pinturas setecentistas. A capela-mor acolhe um altar de talha dourada, de estilo nacional e as paredes laterais receberam painéis de azulejos, do século XVIII.
As cinco capelas funerárias, de iniciativa privada, patenteiam igualmente diversas correntes arquitectónicas e artísticas:
Do lado da Epístola
Capela de S. Sebastião, fundada por Pero Vicente, no final do século XV, acolhe três arcas tumulares, das quais se destaca a de Fernão do Casal com estátua jacente. As paredes apresentam-se revestidas de azulejos, datados de 1732.
Imóvel de Interesse Público, Decreto Nº.38147, DG de 5 Janeiro 1951.Capela de Santo António, instituída por Sancha Martins, sob a invocação de Santo Estevão, no início do século XVI, uma vez que já aparece citada na Visitação de 1523. Tem dois painéis de azulejos do século XVIII, não datados, alusivos ao martírio do Santo.
Capela de S. João Baptista, fundada por Pero Gomes de Faria, sob a invocação de Santo António, no segundo quartel da primeira metade do século XVI. As suas paredes estão revestidas de azulejos hispano-árabes ou sevilhanos, da técnica de aresta, da primeira metade do século XVI e exibe uma abóbada de nervuras em estilo manuelino.
Do lado do Evangelho
Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída provavelmente no século XVII, teve como instituidor Francisco Jorge. Apresenta dois painéis de azulejos do século XVIII e exibe um frontal de altar que é uma réplica recente de um painel de azulejos, tipo tapete, do século XVII.Capela de Nossa Senhora dos Anjos terá sido instituída nos finais da centúria de quatrocentos. Patenteia um lambrim de azulejos policromados do século XVII e no altar acolhe a imagem em pedra de Nossa Senhora com o Menino ao colo, datada dos finais do século XV.
-
Igreja da Misericórdia
A Igreja da Misericórdia, de origem quinhentista, foi erguida no local de uma antiga ermida dedicada ao Espírito Santo e que aparece referida sucessivamente, nas Visitações de 1534, 1553 e 1565, como agregada a um hospital de assistência e caridade, de invocação ao mesmo orago.
Situada na praça da vila, supõe-se que a Igreja da Misericórdia tenha sido construída em 1587, a deduzir pela leitura da inscrição sobre o portal: «Joam Amriques Pimentel deu este portal desmola a esta caza sendo Provedor dela o ano que se comesou de fazer na era de 1587».
Na fachada principal tem significado o portal de linhas clássicas, formado por duas pilastras toscanas, sobre as quais repousa o lintel epigráfico, encimado por um frontão triangular, com uma cruz. No lado esquerdo da frontaria, destaca-se ainda a torre sineira.
No interior, o corpo da igreja apresenta uma nave única, cujas paredes estão revestidas com extraordinários painéis azulejares, de uma grande riqueza cenográfica, pintados em azul e branco, do século XVIII. O altar-mor de talha dourada evidencia características maneiristas tardias (fim do século XVII) e situa-se sobre uma plataforma, num nível superior ao da nave. Outros elementos de interesse são o púlpito de pedra, datado do ano 1601, inserido na parede do lado do Evangelho e uma pia de água benta que terá pertencido à ermida do Espírito Santo e que patenteia decoração Manuelina, localizada na parede à entrada da igreja, do lado da Epístola.
Valor Concelhio, Decreto Nº.2/96, DR 56 de 6 Março 1996.
-
Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem - Moita
Igreja dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira da vila da Moita. O edifício está classificado, desde 2012, como Monumento de Interesse Público, por representar um valor cultural de importância nacional, tendo, por isso, um regime de proteção associado.
A igreja, tal como se apresenta, é o resultado de um conjunto de remodelações e ampliações efetuadas ao longo dos vários séculos que alteraram e assimilaram a estrutura da primitiva ermida. A sua fundação, que data de 1631, deveu-se aos moradores e marítimos devotos de Nossa Senhora da Boa Viagem, que com esforço custearam e levaram a cabo a sua construção. À época, a capela medieval de S. Sebastião, situada ao lado do cemitério, já não dispunha de espaço adequado para atender às necessidades dos crentes e o facto de se encontrar distante deste núcleo habitacional junto ao rio, dificultava o seu acesso tanto por parte dos residentes como dos inúmeros viajantes que utilizavam o cais da vila como ponto de embarque. Sessenta anos depois da sua construção, ganhou o estatuto de matriz, quando a Moita foi elevada à categoria de vila, por carta régia de D. Pedro II.
A igreja tem uma arquitetura de influência clássica, de gosto maneirista, apresentando uma fachada de linhas simples, com alguma contenção e austeridade ao nível dos volumes e dos elementos ornamentais, cenário que se estende a uma estrutura dotada de grande funcionalidade e utilitarismo. Esta estética arquitetónica, considerada de génese portuguesa e designada por estilo chão, reflete uma época conturbada de crise e de limitações económicas que se manteve durante mais de um século, após o período áureo manuelino.
A sobriedade estrutural contrasta, porém, com o programa decorativo do seu interior na sequência de reformas posteriores que tiveram lugar durante a época barroca. Foi precisamente durante este período que o azulejo se tornou numa expressão artística privilegiada para a narração litúrgica. As suas elevadas potencialidades comunicativas estão bem patentes no revestimento azul e branco de 1719, de temática mariana, que preenche a totalidade das paredes da nave, à qual se junta o espaço da pia batismal adornado com azulejos de figura avulsa. A utilização da azulejaria em conjunto com as restantes artes decorativas aqui presentes, como a talha dourada dos altares, o púlpito de pedra da nave, os revestimentos marmóreos, os retábulos, as imagens, e as pinturas do teto, contribuiu para proporcionar uma maior envolvência espiritual conferindo uma dimensão globalizante ao espaço religioso.
Após o grande terramoto de 1 de novembro de 1755, a capela-mor foi rapidamente recuperada, mas a torre sineira e a capela lateral, que contém um altar de talha dourada setecentista e as imagens do Senhor dos Passos e da Nossa Senhora das Dores, só foram reconstruídas anos mais tarde, com as obras a serem sempre custeadas pelos moradores. A data de 1872 inscrita num dos degraus da entrada da igreja assinala seguramente outras intervenções realizadas, cujo alcance se desconhece, sob responsabilidade material e financeira da própria comunidade local. Esta obrigação, de resto, tinha ficado instituída na provisão régia de D. Filipe III, rei que legitimou a construção da primitiva ermida.
Remontando provavelmente à mesma época, as Festas em Honra de N. Sra. da Boa Viagem, cuja origem se deve também à devoção dos marítimos, têm lugar no mês de setembro. São as festividades de maior relevância do concelho e estão entre as mais importantes realizadas a sul do Tejo. O seu programa junta habitualmente componentes de âmbito religioso, profano, rural e marítimo ao longo dos seus dez dias de duração. Entre outras, destacam-se as celebrações religiosas que têm o seu máximo esplendor no primeiro domingo das festas. Neste dia, a imponente procissão percorre as ruas da vila, num trajeto de quase três horas que culmina com a chegada da santa padroeira ao cais. É em ambiente de grande emoção e festa que tem lugar a bênção das embarcações tradicionais ali ancoradas, engalanadas a rigor para receberem graças e proteção divina para ”uma boa viagem”.
Arquitetura Civil
-
Palacete da Fonte da Prata
Quinta da Fonte da Prata, Alhos Vedros
Esta casa edificada por volta de 1910 foi projetada pelo arquiteto Guilherme Eduardo Gomes que procurou construir uma mansão de arquitetura requintada, conforme o modelo setecentista, e de forma a evidenciar a abastança, o gosto e o estilo de vida do seu titular, Eloy Castanha.
É uma construção que reflete, antes de mais, a estrutura agrária que o Concelho da Moita conheceu no século XX, uma grande propriedade altamente rentabilizada por uma classe de latifundiários já bastante esclarecidos.
Em 1979, a Câmara Municipal adquiriu este edifício à Companhia Imobiliária de Turismo Comitur mas, dada a situação de eminente ruína, a Câmara cedeu este espaço em 1995, com o intuito de ser recuperado na sua traça arquitetónica original.
-
Palacete do Morgado da Casa da Cova
Largo do Descarregador, Alhos Vedros
Palacete localizado no Largo do Descarregador, em Alhos Vedros, e assim designado por ter pertencido aos bens do Morgado da Casa da Cova. Embora não se conheça a data da sua construção, o edifício apresenta características arquitetónicas do século XVIII. É um edifício de linhas sóbrias que se caracteriza pela sua simplicidade arquitetónica, desenvolve-se no sentido da horizontalidade, apresentando as janelas e as portas envolvidas por cantarias em pedra, desprovidas de elementos decorativos. Na fachada principal orientada a Norte, as janelas do primeiro andar abrem-se para varandas em ferro forjado, ajudando a valorizar, deste modo, a zona superior do imóvel.
Outro elemento arquitetónico associado ao palacete e digno de menção é o pórtico em mármore que se encontra adossado à parede da Fábrica «Guston» e que, em tempos, daria, certamente, acesso ao jardim da mansão.
-
Portal Manuelino
Travessa do Alferes-Mor, Moita
Este portal dos séculos XV/XVI localiza-se na Travessa do Alferes-Mor, no núcleo antigo da vila da Moita. É o único portal de tipologia manuelina que se manteve numa construção civil, até hoje, nesta zona.
-
Pátio do Rosário
O Pátio do Rosário é um pequeno núcleo habitacional, onde as casas de cores coloridas foram dispostas em redor de um espaço central, possibilitando aos seus habitantes a sua utilização e o convívio social. Pelas suas características, tudo nos leva a crer que este pátio esteja na origem do núcleo urbano do Rosário e muito provavelmente, terá funcionado como centro residencial com as suas dependências, da antiga quinta agrícola de Martim Afonso. Esta quinta, economicamente vocacionada para a cultura da vinha e consequentemente para a produção de vinho, tinha o registo de dez moradores, no ano de 1532. Por esta mesma data, era seu proprietário, Cosmo Bernardes de Macedo, fidalgo da Casa Real e fundador da capela manuelina, o que nos leva a supor ter construído também aqui a sua residência, condigna ao seu estatuto.
No início do século XIX, José Gomes Claro teve a intenção de abrir uma estalagem e de criar uma carreira fluvial, no sítio do Rosário, mas mereceu o indeferimento do Senado da Câmara da Moita, alegando que seria propício aos descaminhos dos direitos do rei e a negócios ilícitos, acrescentando que seria um porto franco “para tranzitarem por elle os facinorozos e malevolos à sua vontade”.
Terá existido no Rosário uma cruz ou cruzeiro, cujo socalco foi desmontado pelo José Gomes Claro, substituindo-o por barro, para lhe retirar a pedra e utilizá-la nos edifícios que tinha erguido e consertado no dito lugar. Esta memória apenas está registada na documentação, pelo que não há hoje vestígios deste cruzeiro. A falta de pedra para reparar os edifícios, levou José Gomes Claro a aproveitar tudo o que encontrou no lugar, além da cruz, foi igualmente acusado de ter desmantelado o curro de pedra que os devotos de Nossa Senhora do Rosário tinham montado no arraial em honra da mesma senhora, para dentro dele correr touros. O mesmo documento refere que o Rosário tinha nesta data, 1809, entre doze a quinze fogos e era uma povoação, na sua maioria, constituída por trabalhadores, cuja existência se devia a uma fábrica de sola, estabelecida há muitos anos naquele lugar, bem como aos fazendeiros, possuidores de terras e constantemente necessitados de mão-de-obra para os trabalhos agrícolas.
Em relação ao pátio é ainda possível observar a existência de um pequeno "nicho", junto ao campanário no muro, ficando a dúvida da sua função específica. Contudo e dado tratar-se de uma quinta agrícola, pensamos que se tratasse de um campanário com o sino do trabalho, manobrado por uma corda, puxada à mão, para marcar o início dos ritmos de trabalho no campo.
No ano de 2000, aquando das obras de recuperação do pátio, realizou-se uma sondagem arqueológica junto a uma das paredes da casa de primeiro andar, situada ao fundo do pátio e considerada como principal deste conjunto. Esta sondagem pôs a descoberto vários materiais, entre os quais, fragmentos de cerâmica de paredes finas do século XVI e faianças do século XVII, o que vem confirmar a ocupação residencial do pátio.
Carta do Património do Concelho da Moita, 2018, pp.332-333