O Sal no Município da Moita
A costa marítima portuguesa e as embocaduras do Tejo e do Sado, varridas por ventos fortes e quentes durante o verão, possuem condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da salicultura. Escavações conduzidas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS) na Ponta da Passadeira, entre os Municípios da Moita e do Barreiro, permitiram remontar a exploração salícola nesta região ao Neolítico final e Calcolítico (IV/III milénio a.C.), pelo método de produção por via ígnea, que consiste na evaporação da água salgada pelo aquecimento através do fogo.
Entre o século X e o século XV a produção de sal é dominada pela exploração a Norte (rio Ave, rio Douro, rio Mondego e ria de Aveiro). Após a reconquista, no caso do Sado, só por uma doação perpétua de D. Afonso III ao mestre da Ordem de Santiago, sobre os direitos das pescarias na região, em 1255, surgem as primeiras referências documentais relativas à exploração do sal, e no caso do estuário do Tejo, em 1274, por uma desavença entre D. Afonso III e a Ordem de Santiago. Nos séculos seguintes o incremento da exploração salícola acentuar-se-ia, transformando-se Setúbal no principal centro produtor e exportador de sal do país, principalmente para o Norte da Europa. Com a extinção da roda do sal, em 1852, que fora criada no século XVI para controlar a venda do sal, e a emergência de outros centros produtores o salgado do Sado entra em declínio, cedendo a primazia ao salgado do Tejo.
Com a reconquista de Alcácer do Sal aos mouros, em 1217, e a pacificação dos territórios, foram criadas condições de estabilidade para a fixação de populações a Sul do Tejo. Sob o impulso colonizador da Ordem de Santiago despontou, na extensa orla ribeirinha, em meados do século XIII, um conjunto de lugares que deram origem ao antigo concelho do Ribatejo, com sedes de freguesia em Alhos Vedros e Sabonha e que possuíam no vinho e no sal o seu principal mantimento. As referências ao sal em Alhos Vedros remontam a 1319, através de um documento que sentenciava os moradores “de Ribatejo fregueizes de S. Lourenço de Alhos Vedros, a que pagassem a dízima do sal pertencente ao Cabbido dos ditos seos rendeeyros”.
No início do século XIV, a exploração salícola do Ribatejo era privilégio do Mosteiro de Santos, desenvolvendo-se a construção de marinhas nos séculos seguintes e a edificação de uma verdadeira paisagem de sal nos sapais e praias de Alhos Vedros, Moita, Sarilhos
Pequenos, Rosário e Baixa da Banheira. Constituindo uma importante fonte de riqueza local, as marinhas foram trabalhadas durante mais de seis séculos, conhecendo o seu ocaso já na segunda metade do século XX.
No inquérito à indústria do sal de 1958 sobre o salgado do Tejo, o mais importante do país, que inclui Barreiro, Loures, Moita, Montijo, Seixal e Vila Franca de Xira, o concelho da Moita registou 81 salinas, mais de metade do total (135) e foi o mais produtivo, com 16.112,5 toneladas. A utilização dos sistemas de frio para conservação dos alimentos e a emergência de mercados mais competitivos determinaram o abandono das marinhas, reconquistadas depois pela vegetação.