A Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça, na Moita, recebe no dia 9 de dezembro, a partir das 11:00h, a iniciativa “Escolas a Ler” com a apresentação do livro “Força Africana: O Sol Desapareceu. Será que foi Roubado?”, de Paula Cardoso, dirigida aos alunos das escolas básicas de 2ª e 3ª ciclos D. Pedro II Fragata do Tejo.
O primeiro livro da série de livros infantojuvenis “Força Africana”, intitulado “O Sol Desapareceu. Será que foi Roubado?” está nas livrarias, depois de uma longa aventura online. Da autoria de Paula Cardoso, fundadora do Afrolink, e com ilustrações de Irene Filipe Marques, a coleção coloca no centro da narrativa heroínas e heróis com os quais as crianças negras se podem identificar, favorecendo a sua autoestima e sentimento de pertença.
Segundo as palavras da autora, esta história aborda temas como: com que idade começamos a interiorizar as diferenças étnico-raciais, quando é que surgem as primeiras expressões verbais e comportamentais dessa consciência, como é que cresce em nós um ideal branco de sociedade.
As respostas estão à nossa volta desde que nascemos.
Primeiro nas imagens que consumimos, depois também nas mensagens, coincidentes na disseminação de uma narrativa de subjugação, invisibilidade, desvalorização ou criminalização dos corpos negros.
Pelo contrário, a presença branca difunde-se enquanto sinónimo de poder, sucesso, bem-estar, inteligência, beleza, riqueza e felicidade.
Reconhecer esses vieses e o seu peso na construção das nossas identidades – precocemente enformada pela pergunta “o que queres ser quando fores grande?” – equivale a perceber a urgência de se promover uma maior representatividade negra desde a primeira infância, compromisso assumido pela Força Africana.
Como pertencer quando essa pertença é excluída da narrativa?
A marca foi lançada online no ano passado e dá vida a uma história com a qual a autora sonhou desde as primeiras palavras: uma aventura protagonizada por heróis e heroínas que se parecessem consigo. Fosse na textura do cabelo, no tom da pele ou nas feições.
Mas todos os livros que lia acabavam por criar em si a convicção de que não tinha lugar no mundo dos superpoderes. E, quanto mais páginas folheava, mais evidente se tornava o seu “não lugar”.
Afinal, como pertencer quando essa pertença é excluída da narrativa?
À medida que foi crescendo, essa invisibilidade transferiu-se dos livros para os cargos de liderança e influência, para a televisão, o cinema e tantas outras áreas deficitárias de diversidade, fenómeno que hoje considera ser indissociável dessa ausência e esvaziamento precoce do direito ao sonho.
A partir desta vivência, decidiu criar histórias que promovam o empoderamento de crianças com a sua pertença, abrindo-lhes espaço para celebrarem as suas raízes e sonharem sem limites.
Para além da construção de personagens com os quais as crianças negras se podem identificar – favorecendo a sua autoestima e sentimento de integração -, a coleção, que aqui se inaugura, permite que todas as crianças incluam no seu imaginário heróis e heroínas étnica e racialmente diferentes, desencorajando atitudes de superioridade de uns sobre os outros.
Neste processo, mais do que apresentar fenótipos invariavelmente excluídos da narrativa, como a pele escura ou o cabelo afro, a Força Africana introduz traços que valorizam a cultura de África, através da partilha de informações positivas sobre o “continente berço” da Humanidade, com destaque para as referências a Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, os países de origem dos cinco personagens principais da Força Africana: Nzinga, Crioulo, Bijagós, Macua e Cacau.